quinta-feira, 11 de agosto de 2011

OS MISTÉRIOS DA PEDRA DA GÁVEA

Por Cássio Ribeiro


As 13 caravelas com mais de mil homens comandados pelo fidalgo Pedro Álvares Cabral estavam bem próximas da costa brasileira. Depois de mais de 40 dias navegando pelo Atlântico, os lusitanos avistaram o Monte Pascoal, próximo a Porto Seguro, na Bahia, em 22 de abril de 1500.


Os portugueses então seguiram para o norte e atracaram na baía Cabrália, dois dias depois, em 24 de abril. A primeira missa em território brasileiro foi rezada na manhã do dia 26 de abril, um domingo, pelo frei Henrique de Coimbra. Depois da missa, os portugueses seguiram viagem para as índias.


O início da História do Brasil começa oficialmente no breve relato acima. Pouco é sabido sobre o Brasil antes da chegada de Cabral, mas é certo que a seqüência histórica a partir do Descobrimento revelou alguns enigmas, ainda não muito bem esclarecidos, sobre a suposta estada de povos navegadores da antigüidade na costa Brasileira, muito antes dos portugueses.


Os lusitanos retornaram ao Brasil em 1501, para um reconhecimento mais detalhado da costa das terras recém-descobertas. Navegaram em três grandes caravelas pelo litoral brasileiro entre 10 de maio de 1501 e 7 de setembro de 1502, dando nome aos acidentes geográficos que mais se destacavam na vista que tinham da costa.


Em 1 de janeiro de 1502, os portugueses chegaram ao local que achavam ser a foz de um grande rio, e deram-no o nome de Rio de Janeiro. Porém, na vista do relevo daquele lugar, uma elevação se erguia a partir da beira do mar e se destacava com seu topo de granito, a 842 metros de altitude, ao lembrar o formato das gáveas das caravelas, que eram plataformas nos topos dos mastros, de onde os navegadores buscavam avistar ilhas ou continentes no horizonte. A curiosa formação rochosa acabou batizada com o nome de Pedra da Gávea pelos portugueses.




A singular forma da Pedra da Gávea lembra, mesmo que desgastada pela ação erosiva do tempo, um rosto enrugado, com longas barbas, e que pertence ao corpo de um leão montado no topo do morro. Essa suposta forma de uma antiga esfinge deixou o rei português Dom João 6º ainda mais curioso, quando um grupo de investigadores relatou a existência de estranhos sinais medindo 15 metros de altura por 4 metros de largura, entalhados na rocha do lado direito da 'têmpora' da imensa figura 'humana'.

Em 1839, uma expedição liderada pelo historiador Manoel Araújo Porto Alegre confirmou a localização dos estranhos sinais. A surpresa geral veio a público quase um século depois, em 1928, quando o arqueólogo amazonense Bernardo da Silva Ramos (1858–1931) publicou o livro 'Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica, Especialmente do Brasil', onde afirma que os sinais são inscrições fenícias, cuja tradução para o português revela: "Tyro, Fenícia, Badezir, primogênito de Jethbaal". Em 856 Antes de Cristo, Badezir sucedeu o pai no trono da cidade de Tiro, capital da Fenícia, e reinou até 850 AC, quando desapareceu misteriosamente.



Inscrições existentes na "têmpora" direita da suposta "esfinge", e a tradução para o hebraico e o português




Bernardo Ramos revela ainda no livro, que várias palavras indígenas brasileiras possuem origem no antigo idioma fenício. Em vários lugares do Brasil, além da Pedra da Gávea, foram encontradas supostas inscrições fenícias gravadas em rochas.
Em Pouso Alto, na Paraíba, um conjunto dessas misteriosas inscrições teve a curiosa tradução:


'Somos filhos de Caná, de saída, a cidade do rei. O comércio nos trouxe a esta distante praia, uma terra de montanhas. Sacrificamos um jovem aos deuses e deusas exaltados no ano de 19 de Hiram, nosso poderoso rei. Embarcamos em Ezion Geber, no mar Vermelho, e viajamos com 10 navios. Permanecemos no mar juntos por 2 anos, em volta da terra pertencente a Ham (África), mas fomos separados por uma tempestade, nos afastamos de nossos companheiros e, assim, aportamos aqui: 12 homens e 3 mulheres. Numa nova praia que eu, o almirante, controlo. Mas auspiciosamente passam os exaltados deuses e deusas intercederem em nosso favor'.

Outro achado curioso aconteceu nas margens do lago Pensiva, no Maranhão, onde foram encontrados estaleiros de madeira petrificada, com espessos pregos de bronze. O pesquisador maranhense Raimundo Lopes encontrou utensílios tipicamente fenícios no lugar, na década de 1920. Na ilha de Marajó, foram encontrados tipos de portos tipicamente fenícios, parecidos com muralhas de pedras, iguais aos encontrados na costa do território da antiga Fenícia.

Os fenícios formavam um povo da antigüidade que não possuía exército poderoso e nem se dedicava à literatura, porém, ficaram famosos por serem os melhores navegadores de sua época. Viviam em uma faixa de terra de 200 quilômetros, entre o mar Mediterrâneo e as montanhas do oeste do Líbano, onde havia fartura de madeira de cedro própria para a construção de embarcações.



Ilustração de uma embarcação fenícia


Os fenícios foram influenciados pelas bases da cultura egípcia. No início, os fenícios adoravam rochedos, árvores e pedras negras ovais; depois, passaram a adorar os astros e as forças da natureza, chamados de baals; o Sol era o grande baal. O culto a esses deuses era realizado em templos erguidos em lugares elevados ou perto de nascentes de rios. Na iminência de um grande perigo, ou quando se construía uma cidade ou um templo fenício novo, os fenícios sacrificavam crianças, que eram lançadas vivas aos braços incandescentes da estátua de bronze do Baal, aquecida por uma fornalha.



Navio fenício


Tiro foi a cidade mais importante do império comercial fenício e era chamada de 'A Rainha dos Mares'. Com o propósito de enriquecer sem limites, os fenícios foram grandes negociantes marítimos e piratas ao mesmo tempo. Quando estavam em menor número ao desembarcarem em um lugar, apresentavam suas mercadorias e ficavam satisfeitos com o lucro de suas vendas; mas, se eram numerosos e mais fortes que os habitantes da região onde chegavam, incendiavam e saqueavam os povoados, além de raptarem mulheres e crianças que eram vendidas posteriormente em Tiro, Mênfis e Babilônia.




Como exímios navegadores de seu tempo, os fenícios fundaram importantes cidades como Lisboa, atual capital de Portugal, que era uma colônia fenícia e foi fundada há mais de 3 mil anos, sendo a 2ª cidade mais antiga da Europa, mais antiga do que Roma inclusive, só perdendo para Atenas. A palavra Lisboa é de origem fenícia e queria dizer "bom porto"


Os fenícios também defendiam seu controle absoluto sobre os mares que exploravam, exterminando, sem piedade, seus concorrentes. O apego dos fenícios pelo monopólio do lucro de seu comércio chegava a níveis inimagináveis. Conta-se a história de um navio fenício que ia buscar estanho na Sicília e, ao perceberem que eram seguidos por uma embarcação estrangeira, os fenícios preferiram afundar seu navio a mostrarem o caminho do estanho aos inimigos.




Moeda fenícia


Para afastarem os possíveis concorrentes de seus territórios, os fenícios contavam lendas fantásticas sobre as terras que exploravam; diziam que a Sicília era habitada por gigantes que se alimentavam de carne humana; e que a África era cheia de monstros horrendos.




Utensílios fenícios

Teria esse curioso povo da antigüidade estado no Rio de Janeiro e esculpido uma esfinge na Pedra da Gávea para realizar ali sacrifícios religiosos e sepultar seu rei Badezir muito antes do século 1 da era cristã? Para muitos pesquisadores modernos, a resposta é não.




Pedra da Gávea com a Barra da Tijuca à direita ...





e vista a partir do mesmo bairro carioca


O geólogo Marco André Malmann Medeiros, da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) afirma que as supostas inscrições são falhas geológicas na pedra, resultantes do desgaste dos minérios mais sensíveis ao longo do tempo. Já o antropólogo cultural e professor Francisco Otávio da Silva Bezerra, um dos fundadores do Centro Brasileiro de Arqueologia, afirmou que não há prova científica da vinda dos fenícios ao Brasil.




No outro extremo das explicações relativas aos mistérios sobre a Pedra da Gávea, os membros da Sociedade Brasileira de Eubiose definem o local como um ícone da presença fenícia no Brasil. Outra expressão dos mistérios da Pedra da Gávea é um suposto 'portal' de quinze metros de altura, marcado por uma reentrância próxima ao topo da Pedra, do lado voltado para a Barra da Tijuca. Para muitos místicos, trata-se de um portal que dá acesso à outra dimensão, ou à entrada para Agharta, que seria um império subterrâneo com milhares de habitantes. A revista 'O Cruzeiro', que marcou época na história do jornalismo brasileiro, publicou, em 1952, uma foto em que aparece um suposto disco voador ao lado da Pedra da Gávea.




Entre o ceticismo e a crença de que os mistérios da Pedra da Gávea são marcos físicos e históricos que comprovam teorias sobre a presença fenícia nas américas, olhar para a forma tão particular da Pedra, a partir do oceano ou das areias da orla carioca, deixa a dúvida que, talvez, jamais seja esclarecida pelo simples fato de suas verdades plenas estarem perdidas em algum lugar muito além das primeiras páginas dos livros de História do Brasil, que definem o começo como sendo a chegada das 13 caravelas de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro, em 22 de abril de 1500.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O DISCO NEVERMIND DO NIRVANA E SUA POLÊMICA COM O FACEBOOK

Por Cássio Ribeiro

Antes de falarmos sobre a polêmica relativa à suposta proibição da imagem da capa do álbum Nevermind do Nirvana pelo Facebook na semana passada, é necessário compreendermos o que representou e representa o disco para o Rock em toda a sua história.
O disco Nevermind é o segundo trabalho de estúdio da banda norte-americana Nirvana, da cidade de Seattle. Foi lançado há quase 20 anos, no dia 26 de setembro de 1991, e vendeu, logo após ter sido lançado, cerca de 26 milhões de cópias, sendo 11,5 milhões só nos Estados Unidos.
Nevermind projetou rapidamente em todo o mundo a banda liderada pelo hoje saudoso Kurt Cobain. Crítica e público não economizavam elogios diante de sua variada sonoridade, que não permite ainda hoje defini-lo de forma precisa como rock, pop, underground ou punk.
Além de todo o merecido sucesso que fez e faz com suas faixas, Nevermind, que está na lista dos 200 discos definitivos no ‘Rock And Roll Hall Of Fame', talvez tenha seu principal atrativo não apenas no auditivo dos acordes e dos espancamentos da bateria de suas canções, mas também na sua capa totalmente inusitada e inovadora até então, que foi eleita pela revista Rolling Stone como a melhor capa de todos os tempos.
Nevermind também foi eleito pelo canal de TV norte-americano VH1 como o 2º melhor álbum de toda a história do Rock, perdendo apenas para o disco Revolver, dos Beatles. E é lógico que perder apenas para os Beatles é, de certa forma, como perder para Pelé na história do Futebol, e ocupar, assim, também um pouco do primeiro lugar.
O mais curioso de tudo está na simplicidade da forma como a foto da capa de Nevermind foi produzida, e no preço pago pelo fotógrafo para os pais do “modelo”.
Em 1991, o jovem americano Spencer Elden era apenas um Bebê. Seus pais o soltaram pelado em uma piscina do Rose Bowl Aquatic, na Califórnia. Spencer foi atraído por uma nota de 1 dólar presa em um anzol de verdade e o fotógrafo Kirk Weddle usou um rolo de filmes fazendo fotos do nadador sedento pelo dólar. Os pais do então bebê Spence receberam a pífia quantia de 200 dólares pela exposição no ensaio fotográfico aquático que produziu a imagem escolhida para a capa do disco Nevermind do Nirvana.



A lendária capa do disco Nevermind, do Nirvana



Na semana passada, em 27 de julho, após ser publicada no perfil oficial da banda Nirvana no Facebook, a imagem da capa do disco Nevermind foi censurada e tirada do ar pelo próprio Facebook. O motivo alegado foi que a imagem violaria um dos termos de uso do site, que proíbe a publicação de imagens de nudez.
Dois dias depois, já em 29 de julho, representantes do site de relacionamentos Facebook, em declaração à revista britânica NME, negaram que o site tivesse censurado a capa do disco Nevermind. “A foto da capa de Nevermind não viola os termos do Facebook, que permite a postagem de fotos de crianças (bebês) nuas que claramente não estejam em posições sexuais por vontade própria. Se os pais quiserem compartilhar as fotos de seu bebê com seus avós, não gostaríamos que eles fossem incapazes de compartilhar pelo Facebook”, disseram os representantes do site de relacionamentos.
Recentemente, Spencer Elden recriou, dessa vez vestido com um calção, a singular foto da capa de Nevermind na mesma piscina do Rose Bowl Aquatic Center, na Califórnia.



"É estranho pensar que muitas pessoas já me viram pelado. Eu me sinto como o maior astro pornô do mundo", disse Spencer Elden ao site da MTV norte-americana

No próximo dia 26 de setembro, a gravadora americana Reimagine Music lançará uma coletânea para comemorar os 20 anos de lançamento do disco Nevermind. A coletânea, na qual as 12 faixas de Nevermind serão regravadas por diversos artistas do Rock de todo o mundo, se chamará "A 20th Anniversary Tribute To Nirvana's Nevermind" e terá como única atração do Rock brasileiro a cantora Pitty, que foi convidada para regravar a faixa 10 de Nevermind (Stay Away), e cujo trabalho de gravação já foi concluído pela rockeira brasileira no início de julho último, em um estúdio de Nova York.

Ouça no link abaixo, a versão original de 'Stay Away' lançada em 1991, no disco Nevermind:
http://www.youtube.com/watch?v=xA5HbqgCIUE